Tuesday, August 29, 2006

Teoria de Merda

A TEORIA DO CAGALHÃO

MacCoy interroga: O que há de mais poderoso no mundo? Qual é a coisa que mais consequências trará, mais destinos conseguirá mudar, mais poder terá sobre as outras coisas? Muitos dirão imediatamente o amor ou a paixão, outros considerarão o intelecto. Há também os mais fracos de espírito que admitirão o dinheiro ou as influências e o sucesso (o “poder instituído”).

Pois MacCoy diz que o que há de mais poderoso no mundo é o cagalhão.

O cagalhão! Esse produto natural do organismo humano, que sobre tantas forma se apresenta, tão variadas como o “cagalhão seco”, que nasce e morre de vez só vez com grande vontade e rapidez, faz mexer as águas com a sua imponente solidez e desperta um sentimento de orgulho no seu criador ou o “cagalhão irritante”, que não está ainda totalmente preparado para o mundo e teima em deixar-se completar no seu propósito, não tendo problemas em separar-se de si mesmo e esperar com alguma mesquinhez que o esforço ansioso do criador lhe dite finalmente a sentença. Há também o “cagalhão cagalhão“, um género de cagalhão “show-off”, que faz primeiro anunciar que está para chegar aliando-se ao ar e ao som para proporcionar um pequeno acto de abertura ao espectáculo que irá acontecer, provocando uma inevitável risada no criador ou mesmo uma gargalhada em eventuais vizinhos, e há ainda o mais mortífero de todos, a diarreia ou o “cagar fininho”, que mais poder tem, mais medos cria, mais consequências pode trazer. O cagalhão, esse simultaneamente nojento e agradável fenómeno que tantos nomes desperta e tantas expressões suscita como “vou mandar uma bosta”, “vou arrear o calhau” ou “vou limpar a tripa”… Esse sim, é o verdadeiro poder do mundo.

O cagalhão é a fonte de prazer mais efémera que existe - porque é afinal com uma sensação de alívio que qualquer ser humano sai da casa-de-banho, sensação essa originada por apenas fugazes momentos de uma apreciada solidão. Poucas sensações são tão boas como aquela em que nos apercebemos de que iremos passar algum tempo sentados, que a máquina está a funcionar bem e tem mais para mais oferecer, sem causar má disposição, que quer brincar mais e simplesmente “deitar cá para fora” um grito de “estamos vivoooooos”…. Há quem acompanhe este prazer com leitura, há quem jogue jogos no telemóvel, há quem aproveite para colocar os pensamentos em ordem, mas todos comungam da mesma sensação de paz e partilham a mesma leveza e liberdade com que se abandona o “local de despejo”, a “doca da porquice”, o “santuário da imundice”…

Mas o verdadeiro poder do cagalhão não vem no prazer que proporciona, mas no exacto oposto… porque o cagalhão é simultaneamente bom e mau, o anjo e o diabo…Se poucas sensações são tão boas como o alívio e a leveza que um “belo calhau” traz, poucas são as circunstancias que causam tanta aflição como a do cagalhão indesejado, o cagalhão inoportuno que chega na pior altura. E o poder do cagalhão reside aqui: quando chega é para chegar, independentemente da situação em que o criador se encontra na altura. Por outras palavras, nada pára a “vontade de cagar” e o cagalhão tudo vence e tudo suprime.

Senão vejamos:
O amor. O amor de que tanto se escreve, que tanto faz falar, discutir, filosofar, que tantos homens muda para bem e para mal. O amor que cria e destrói, indubitavelmente enriquecedor nos seus frutos mas também absolutamente devastador no seu lado sombrio. O amor move certamente multidões, faz girar o mundo, pode oferecer a mais cristalina forma de êxtase, e as suas consequências são sempre gigantescas, mas o amor não é a coisa mais poderosa do mundo. Muito simplesmente porque se dá “aquela vontade de cagar”, que se dane o amor.
Eis um exemplo: casamento, as famílias reunidas e todos vestidos a preceito. Uns ansiaram este momento durante mais de um mês planeando cuidadosamente o chapéu e a “encharpe”, outros vestiram o mesmo fato do casamento anterior, sem estar devidamente lavado, esperando quebrar o seu record pessoal de bebidas e desejando acabar a noite a saber os nomes de todos os empregados, mas todos estão ali para celebrar a felicidade derradeira que será para os noivos oficializar publicamente o seu mútuo comprometimento eterno. A noiva chega, resplandecente e angélica. O noivo transborda de alegria. O coração quase que salta cá para fora. Mas, subitamente, há mais qualquer coisa que quer saltar cá para fora… Em instantes alarmados que parecem uma eternidade, o noivo tenta com todas as suas forças ignorar a graciosidade com que a sua futura mulher atravessava a igreja (e que bonita ela estava!) e concentrar-se em lutar com o cagalhão inoportuno, forçando-a a aguardar. São momentos de pavor, que ninguém nota porque está tudo a maravilhar-se com a noiva (os que já chegaram...). Inevitavelmente, e é inquietantemente inevitável, o cagalhão leva a melhor, mostra todo seu poder e com requintes de malvadez obriga o noivo a sair disparado, já levando as mãos ao cinto para poupar o tempo. O casamento realiza-se, depois de retornado o noivo e retocada a maquilhagem da noiva em prantos, e são felizes para sempre. O amor prevalece. Mas não foi mais poderoso que o cagalhão naquela circunstância e nunca será.
“Mas o cagalhão não pode gerar uma criança”, dirá o céptico. De notar que a teoria do cagalhão não pretende desvalorizar os poderes do amor ou de tantas outras coisas mas apenas postular que o poder do cagalhão é superior a todos eles. O cagalhão nunca poderá ser valorizado como o poder do milagre da reprodução, mas é uma certeza que o milagre da reprodução não se poderá consubstanciar se se mostrar o poder do cagalhão. Basicamente, se dá “aquela vontade de cagar” nem que estejam no meio do acto. Ora, o poder do cagalhão é maior que o poder do milagre da reprodução – este só acontece se aquele deixar.


O dinheiro. O dinheiro é a coisa que mais poder oferece em todo o mundo. O dinheiro faz subsistir o homem. O dinheiro é a salvação para a maioria dos problemas. Com dinheiro mata-se a pobreza, melhora-se a saúde e a esperança de vida, aumenta-se a educação e inteligência. Com dinheiro muitas vezes até se poderá conseguir desencantar paixão (e que doce encanto tem o dinheiro para muitos), que mais tarde se poderá transformar em amor. Há quem mate, quem minta, quem se preste a desvalorizações da condição humana pelo dinheiro. O dinheiro põe o homem no topo do mundo, o dinheiro faz cair o homem. Será este o raciocínio de grande maioria dos homens dos nossos tempos, infelizmente afirma MacCoy.
Mas o dinheiro, essa constante na cabeça do homem, esse instrumento de felicidade portátil para quem o tem e maldição e preocupação persistente de quem não tem, não é a coisa mais poderosa do mundo. Porque não é por alguém ter mais dinheiro que “caga menos que o outro”. E pode-se estar numa ilha paradisíaca com um cocktail na mão que se o cagalhão apertar não se verá o pôr-do-sol. E pode-se estar no gozo de um dvd no gigantesco plasma na sala de 250m2 que se o cagalhão apertar terá que se parar na parte em que se descobre que foi ele que matou a mulher no Memento (MacCoy é mesmo lixado!). Quem não esvaziaria de bom grado o conteúdo da sua carteira, por recheada que fosse, para poder entrar em qualquer tipo de casa de banho num daqueles momentos de aperto trágico? Quanto não pagaria Bill Gates para poder “baixar as calças” numa destas situações, mesmo no decorrer da apresentação de um novo software que iria mudar o mundo? Lá está, como diz a sabedoria popular presente nas casas de banho masculinas: “Lá fora és um herói, mas cá dentro cagas-te todo”…

A mesma lógica pode ser aplicada a tantas outras coisas poderosas do mundo. Do sucesso (se dá “aquela vontade de cagar”, esqueça-se a reunião com o director geral ou a apresentação mais importante da vida), ao dom artístico (Leonardo da Vinci não terá pintado a Gioconda a partir do seu “cagueiro” – ou daí talvez tenha…), ao intelecto (Einstein conseguiria estar a comprovar a sua teoria da relatividade numa daquelas diarreias em que se tem que manter o corpo curvado e a cabeça entre as pernas tal é a agressividade do despejo?), à habilidade (não quero nem pensar numa crise intestinal de um pobre trapezista em pleno acto), à fé, à paixão, etc, etc, etc…

A verdade é que pouco se fala ou escreve sobre o cagalhão. Umas tentativas ténues de Bocage no século XVIII (MacCoy recomenda vivamente a leitura do poema “Cagando estava a dama mais formosa”) são o mais evidente sustento literário para esta massa fedentinosa que tantos homens faz curvar. Muito menos se ouve falar sobre o seu assustador poder maléfico ou sobre os prazeres inerentes ao “acto de cagar”. MacCoy acha inclusivamente vergonhoso a palavra “cagar” dar erro no spelling (curiosamente, o seu fruto, o cagalhão, passa incólume). O cagalhão devia ter mais projecção e deveríamos todos reconhecer a Teoria do Cagalhão. O cagalhão é único. E é efectivamente a coisa mais poderosa do mundo.

Maccoy todos os dias a seguir ao almoço presta a sua homenagem, altura em que aproveita para se actualizar sobre as novidades cor-de-rosa do nosso país – não há decerto leitura mais apropriada à ocasião, esta “leitura de merda”.

Assim é a Teoria do Cagalhão.
MacCoy aprova.

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