Thursday, August 31, 2006

E se um desconhecido lhe oferecesse… uma multa??

O título deste texto poderia ser em alternativa “Há sempre uma primeira vez, parte 2”, pois pretende retratar uma experiência que MacCoy nunca tinha tido - Ser mandado parar pela polícia e regressar a casa mais leve na conta bancária mas mais pesado na cabeça.

Final de tarde. Final de um dia de trabalho. Final de um dia a interagir mais com um computador do que com pessoas (o que muitas vezes não é necessariamente mau). O Sol ainda batia forte e parecia querer dizer jocosamente – “quando nasço sou para todos, mas hoje não fui para ti”, levando à construção inevitável de uma aflorada teia de cenários alternativos mais desejáveis do que aquele em que se encontrava MacCoy, a descer rápido uma via rápida (daí o nome), enquanto Time of your Life dos Green Day tocava bem alto – e bem alto significa no volume 37, o que no MacCoymobile representa fielmente a expressão contemporânea “a bombar”. Por outras palavras, MacCoy “estava noutra”.. A pensar na “morte da bezerra” (mas quem é a bezerra?? Porque é que a bezerra morreu?? Como é que a bezerra morreu?? Porque é que é a bezerra tão importante para tanta boa gente se pôr a pensar na sua morte??)… Nisto, este estado aluado é interrompido por um espectáculo único vestido de verde fluorescente. Eram 3 carros (modelo: daqueles que fazem qualquer um travar para os 120 na auto-estrada aquando avistados) e 4 ou 5 polícias (o que põe MacCoy neste momento a pensar porque não apanharam uns boleia com outros e pouparam uns trocados ao contribuinte…). Um aparato! Uma “azáfama”!! Se por um lado MacCoy estava receoso porque não tinha UM documento consigo (MacCoy não usa carteira e MacCoy leva no bolso o mínimo essencial para poder sobreviver – cartão de débito, cartão de crédito, cartão da cantina e, obviamente, cartão do blockbuster), por outro sentia despreocupação e conforto pois tinha adquirido há uns tempos, também pela primeira vez, o selo de MacCoymobile, acto que deixou MacCoy muito orgulhoso e confiante desde então.

“Boa tarde”, diz o agente Ricardo Silva (chamemos-lhe assim, pois é este o seu nome), enquanto desferia uma continência muito rápida e claramente já gasta.
“Boa tarde sr guarda”, replica MacCoy, logo depois de ter acompanhado com apenas algumas centésimas de segundo de diferença o gesto mímico do guarda, levando também a sua mão à cabeça não sabe muito porquê.
Já antes de agente silva (clássico1) dizer “os seus documentos por favor” estava MacCoy a tentar despender algum charme com um “não vai acreditar..deixei a carteira em casa…”. “Não tem nem carta de condução? Nem um único documento do carro?”, perguntava indignado o agente que por sinal se revelava alentejano (“na tém carta de conduçauhm?”). “É que nem bilhete de identidade nem nada.. Isto nunca me aconteceu.. Ando sempre com a carteira… Que chatice…Nem parece meu…”, dizia MacCoy pedindo emprestado aos seus talentos teatrais uma cara de “pierrot” – não lamuriosa mas sinceramente surpresa… Foi tão bem empregue que MacCoy ainda achou que se poderia safar, enquanto o agente silva num ar um pouco atrapalhado lhe pedia para aguardar enquanto ia falar com o sargento – o polícia mais velho, de bigode (clássico2).
Foi quando o agente silva voltou a MacCoymobile e pediu a MacCoy para o acompanhar (sim, MacCoy teve a sua escolta pessoal para atravessar a estrada), que MacCoy começou a considerar que poderia ter problemas. Enquanto atravessavam confidenciava o agente silva, já visivelmente compadecido com a cara de “pierrot”: “Pois.. o seu problema é ter sido apanhado em excesso de velocidade”… “Oops”, diz mentalmente MacCoy para si próprio. Agora não há volta a dar. MacCoy está lixado.

Rajadas de pensamentos perturbantes ocorrem imediatamente em MacCoy, semelhantes dir-se-ia àqueles que levam tantas senhoras de idade a gritar queixas à janela “aaaaai… ai a minha vida” e por certo não menos sentidos do que os pensamentos sofridos de um chefe de família cigano quando lhe batem na carrinha de mercadoria ilegal a caminho da feira… “A multa são 120 euros”, foi uma expressão que fez aumentar este vendaval de considerações negras e um ”E pode ficar sem carta” parecia querer procurar um botão de pânico na cabeça de MacCoy (se bem que para MacCoy o mais preocupante, dada a sua frágil situação financeira, era decerto a primeira). Todo este turbilhão de preocupações mesquinhas durou não mais que 30 segundos. O tempo de largar mentalmente uns “olha que foda-se! Que raio de azar!!”. Passado este tempo desagradável num território mental onde MacCoy não gosta nem sabe estar, foi aceite naturalmente a situação e encarada como um “há sempre uma primeira vez, tinha que acontecer alguma vez”.

Parecia que se queria montar uma peça verdadeiramente rica de personagens no espectáculo policial deste fim de tarde agridoce. Os agentes da autoridade usavam todos óculos Arnette espelhados, tão feios como falsos, com excepção do sargento, a figura mais serena e concentrada deste circo, que ao invés das peneiras exageradas dos seus súbditos apresentava apenas um bigode farto que aparentava já ter passado por muitas histórias. Enquanto o sargento apontava dedicado todos os dados que lhe eram comunicados sobre os infractores que passavam poucos kilómetros atrás pelo radar (MacCoy conseguiu uns parcos 130 kms/hora numa zona de 90… a saber que iria aparecer num registo teria dado mais…), um dos “soldados” pavoneava-se. Simplesmente, pavoneava-se. Não tem MacCoy a riqueza literária para explicar a forma como esta ave rara se pavoneava. Era um misto de uma vaidade desmedida de um pavão com o trotear ensinado de um cavalo árabe. Os braços ondulavam gelatinosos com grande vontade e aliavam-se aos ombros que mais pareciam bailarinos amadores e arrogantes. Parecia que todos os membros tinham uma vontade própria. O pescoço não mexia, o rosto não era mais do que o ostento dos óculos escuros, as pernas e o andar eram a irritação caminhante e não coincidiam com nada de nada de nada. Em resumo, um otário, um atrasado mental (clássico3). Claro que MacCoy esteve para lhe dar um merecido tiro mas não tinha consigo a sua pistola e não queria, como facilmente poderia, sacar a arma ao agente silva que se mostrava tão solidário e “humano”.
Enquanto o pavão de colete fluorescente mandava vivamente parar os outros infractores, MacCoy dirigia-se com o prestável agente silva, entretanto já descontraído e boa pessoa para policial, a um dos carro para reunir com outro agente, o informático desta pandilha, para que se colocassem as suas informações no computador. Ao perguntarem que morada constava na carta de condução Maccoy arriscou. Tinha a carta numa morada, o contribuinte noutra e ainda o bilhete de identidade noutra. Para além disso, receava MacCoy que após introduzidos os seus dados pudesse aparecer um alerta espalhafatoso indicando outras infracções mais graves -“alerta! Alerta! O sujeito não paga impostos há 3 anos”. Mas tudo correu pelo melhor. Faltava apenas “pagar a conta”…

A esta altura já MacCoy se encontrava plenamente descontraído e quase que saía deste espectáculo com um novo amigo. Adoptando agora a figura do “puto porreiro que teve azar mas que até percebe o papel do agente e quase que o admira”, foi estabelecendo uma ligação com o Sr Silva que lhe ia explicando os procedimentos todos daí para a frente (não só os de MacCoy, mas os dele próprio), as diferenças entre contra-ordenação grave e muito grave e respectivas diferenças no valor da coima, as particularidades da pena suspensa, e qualquer coisa sobre tirarem 5% à velocidade atingida no radar.. yeah, yeah… whatever!! MacCoy desligava a meio trocando daqueles olhares de cumplicidade infeliz com uma senhora bastante mais desconfortada e desgostada – “pois é.. apanhados não é? É assim…” – com tipo de cara e som próprios a acompanhar. Ao passar um porsche “completamente a abrir” (e esta expressão diz tudo), MacCoy indignava-se: “Olha!!Aquele é que deviam apanhar!”… MacCoy estava com esta indignação exprimida no mode “puto porreiro” definitivamente nas boas graças do agente silva, que lhe explicou que bem gostava de o caçar mas só os que são apanhados no radar podem ser punidos.
Estava contudo cada vez mais perto o momento trágico de ir ao bolso tirar um dos 4 cartões. “Epa, onde é que está o POS? Dá aí o POS. Já estão despachados com o POS?” perguntava agitado o agente silva. MacCoy, como é um gajo lixado e sabia perfeitamente o que queria dizer esta sigla, interroga “o POS? O que é o POS? Não me vão maltratar pois não?”…Quase que encantado com um à-vontade raro num infractor, o agente explica que era apenas o terminal de Multibanco.”O que quer dizer”?, pergunta MacCoy manhosamente. MacCoy ficou contente por perceber no momento que nunca antes havia sido feito esta pergunta. “Olhe…Hhaaa… Nem sei bem…Posto qualquer coisa…”. Saiu desta cilada, e muitíssimo bem, com um “cá está. São 120 euros”.

E era este o último acto desta peça dramática, que apesar de bem ensaiada e com alguns traços de comédia não valia o preço de que era pedido. Assim se passou a primeira vez que MacCoy foi autuado por excesso de velocidade. A sorte não dura sempre.

MacCoy regressa finalmente a MacCoymobile não sem antes deixar uma interrogação bem-disposta a um infractor fresquinho e com cara de poucos amigos - “Então?? Quanto é que tiveste??”. “Sei lá caral%$#” (clássico4).

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